quarta-feira, 29 de março de 2006

 

A gratidão de um maneta


terça-feira, 28 de março de 2006

 

Osso duro de roer


Acabei de mudar de casa e já vou ter que dar um tempo...
Quebrei a mão direita e está doendo por demais.
Enquanto digito, estou fazendo um esforço sobrehumano...
mas vale a pena só pra publicar o presente que ganhei da Alexandra.

Engraçado como quem gosta da gente, pressente quando precisamos...
Não se preocupem, que sou osso duro de roer e uma mão quebrada não vai segurar minha verve por muito tempo!!!

"- Quebrou uma mão, bate com a outra!" - Já dizia o Mestre Luiz Lion

sexta-feira, 24 de março de 2006

 

Mudei de casa

É isso aí!

Acatando inúmeros pedidos, O MIMEÓGRAFO PISCA-PISCA mudou de endereço.

Agora ele é Blogger.

Vocês tinham razão o MSN Spaces sucks!!! (by Brena)

Se vocês já tinham incluido algum link em seus blogs com o endereço antigo, peço que alterem. Mas se não o fizerem, no problem! Vou manter o outro no ar, direcionando para esse aqui.

Obrigado à Dé, que foi quem aprovou o piloto deste blog e estreiou os comentários.


 

Buscando a luz


Você continua buscando a luz.
Hora nos amores,
hora nas janelas.
Vibra com os louvores,
se vicia em novelas.
Você sempre busca a luz.
Busca em Deus,
e na comida light.
Busca em Deus,
e no spotlight.
Para encontrar a luz,
você deve procurar
onde ela se esconde.
Para encontrar a luz,
você deve procurar
onde seu ego faz sombra.


quinta-feira, 23 de março de 2006

 

Sessão Genialidade II

Foto por: http://www.flickr.com/photos/rivello/

Se eu pudesse apresentar
Niemeyer para a Bruna

No ano passado ajudei minha filha a fazer um trabalho de escola. O pedido de auxílio não partiu dela (com o gênio que tem, nunca daria o braço a torcer), veio da mãe.
Só a possibilidade de poder ajudar já me encheu de alegria e entusiasmo, mas quando soube do tema, delirei.
Niemeyer e Da Vinci!
Imaginem minha alegria. Eu, que por treze anos, não pude exercer o amor paterno (dar carinho, desejar bênçãos, repreender, compartilhar sorrisos, cantar parabéns, fazer ninar e, principalmente ensinar), receber como primeira incumbência ajudar num trabalho sobre dois gênios que eu admiro mais que tudo. Só podia ser coisa de Deus.
Aqui neste texto, vou me ater ao único gênio brasileiro ainda vivo (na minha opinião), a quem já admirava desde a tenra infância. Lembro-me bem do dia que, sentado com meu pai numa mesa de um restaurante no Rio, ele me mostrou uma mesa de intelectuais. Meu pai discorreu sobre cada um deles (são esses tipos de momentos que me faltaram partilhar com a Bruna), mas me concentrei mais em um senhor de idade já avançada (apesar das presenças também ilustres de Vinícius de Moraes e Tom Jobim), mas que emanava serenidade. Pelo que meu pai me contou, considerei-o muito doido: um cara que transformava em curvas o que sempre foi reta, que fez a Pampulha e Brasília. Na minha mente infantil, um sujeito que “fez” uma lagoa tão grande e uma cidade “inteira” só podia ser genial. E conforme o relato do meu pai, o Arquiteto era acima de tudo um cidadão preocupado com os pobres, um Comunista! (Eu adorava comunistas).
Vários anos depois, próximo da maioridade, conheci pessoalmente o gênio da minha infância por intermédio do
Ministro José Aparecido de Oliveira (pai do meu grande amigo José Fernando). Estávamos na Fazenda Santa Cecília, onde foi construída uma capela projetada por Niemeyer, quando o ministro me chamou para apresentar um grupo de amigos que o visitavam. Um grupo interessante: Ziraldo, Sebastião Nery, alguns prefeitos da região, vários bajuladores e, sentado numa mesa redonda mais afastado, Oscar Niemeyer! Não consegui ultrapassar a cordialidade dos cumprimentos. Fiquei imobilizado pela admiração. Nem prestei atenção às anedotas política do Tião Nery. Nem o pai do Menino Maluquinho conseguiu desviar minha atenção. Niemeyer pouco disse. Acho que estava desenhando mentalmente as curvas da futura capela em forma de caracol.
Não sei a nota que o professor deu para o trabalho da Bruna, mas deve ter sido 10, pois foi feito com amor (pela filha e pelo Arquiteto) e com o entusiasmo de fã incondicional (da filha e do Arquiteto).
Sei que um dia, eu e ela ainda sentaremos para conversar sobre Niemeyer, Da Vinci, livros, músicas, cães, cinema, compreensão e amor.



 

Sessão genialidade I

Foto de: http://www.flickr.com/photos/codevilla/

A Bicicleta Perfeita

Você já viu algum adulto fazendo gol de bicicleta? Já vi alguns, mas são raros.
E meninos fazendo gol de bicicleta? Já vi muitos. Fora as tentativas frustradas.
Na minha infância, um gol era somente um gol. A meta, que adornava nossos sonhos, era o gol de bicicleta. Sonhávamos e fazíamos, não importando o chão duro a nossa espera.
Hoje em dia, tenho acompanhado muito os campeonatos infantis por causa do Rafa, mas não vejo mais gols de bicicleta. Acho que é devido a influência do novo futebol, veloz, troncudo e sem poesia. No futebol dos dias de hoje, a
“Defesa de Escorpião” do Higuita é criticada, gaúchas são ofensas punidas com cusparadas e cobranças de falta são avaliadas pela velocidade da bola.
O futebol atual, impede nossas crianças de sonhar com gols de bicicleta. Como só quem sonha faz, e só as crianças tem a genialidade necessária para um gol de bicicleta, chego a uma conclusão: os gols de bicicleta estão em extinção.

 

O Terminal

Foto por: http://www.flickr.com/photos/codevilla

Quem ainda não viu o filme “
O Terminal” de Steven Spielberg, com Tom Hanks, deve vê-lo.
Não esperava isso de um Spielberg. Adorei. Me lembrou um pouco “
Muito além do Jardim” (também imperdível).
Veja e entenderá o que tem haver com a foto do Codevilla.

 

Assoprar Dente de Leão

Foto por: http://www.flickr.com/photos/codevilla/

Tem coisa mais bacana do que juntar um buquê de dentes-de-leão, assoprar para o alto e ver uma chuva carinhosa de sementes aladas cair sobre a mulher amada.
Há muito tempo sinto falta do dentes-de-leão, que eram tão comuns na minha infância.
Vejo um ou outro espalhados por aí, geralmente já meio sem pétalas. Dentes-de-leão solitários. Não dá pra formar um buquê.

Será que estão realmente desaparecendo? Talvez o vento bloqueado por arranha-céus não consegue alcançá-los para espalhar suas sementes. Talvez elas sempre caiam no asfalto ingrato que não compreende o que é carinho.

Ou talvez, seja eu que não tenho mais a sensibilidade juvenil para poder encontrá-los. Ou ainda, seja a falta da mulher amada para ser acariciada por um sopro de vida.

 

Comentário sobre texto da Aninha

Já casei algumas vezes por antecipação
Mas também já namorei sem nenhuma paixão
Fico com a primeira opção

Já esperei o telefone chamar
Mas também já atendi a resmungar
Prefiro esperar

Vários "eu te amo" ditos
Vários "eu te amo" ouvidos
"O que fazer? Prefiro dizer!

Sofrer por antecipação
Não!
Fazer o que te dá tesão!

Está é minha reflexão
sobre o texto da Aninha no blog "Se correr o bicho pega... Se ficar o bicho come"

segunda-feira, 20 de março de 2006

 

Cartões de visita

Nunca gostei de cartões de visita. Não sei se pela frieza do texto ou pelo gélido ato de troca de cartões.
Tenho visto cartões mais modernos com design arrojado, papel laminado, reciclado, plastificado e outros ados. Até criativos, mas continuo não gostando. Isso me leva a crer, que o que realmente não gosto é do ato da troca de cartões: - Toma meu cartão! (lê-se: tenho cartão, logo, sou alguém.)
O que acho mais triste é que, quem recebe, geralmente joga fora. Se não descarta e tenta algum contato, quem deu o cartão geralmente não se lembra.
E quem não tem cartão? Precisa passar pelo constrangimento de não o ter para retribuir um presente não solicitado?

Mas hoje, lendo o blog "
Se correr o bicho pega... Se ficar o bicho come" vi uma opção que me pareceu bacana.
Um cartão de visita no qual a dona enumerava as coisas que gostava de fazer e, entre uma e outra citação, escrevia os dados dela, de cor diferente.
Como a Aninha (dona do blog), fiquei pensando como seria o meu. Como sugerido fiz uma lista das coisas que gosto, mas não achei pertinente colocar isso num cartão de visita. Acho que não gosto mesmo é do tal cartão de visita.

Segue a minha lista:
Pão com azeite e vinho numa manhã de sol.

Escrever na cama usando as costas do meu amor como apoio.
Na noite seguinte, sentir no travesseiro o perfume da mulher amada.
Correr muito, até quase desistir, mas não desistir.
Tomar uma única xícara de café durante uma tarde inteira numa mesa com vista.
Sonhar e me lembrar do sonho.
Cozinhar com uma boa companhia sentada sobre a bancada.
Dirigir numa estrada vazia.
Sentar numa mesa cheia.
Mergulhar na banheira e ficar em apnéia.
Sentar numa pedra e ver o mar como aquário.
Ver o Rafa jogando bola, melhor que jogo da seleção.
Escutar uma gargalhada.
Beijar a lágrima derramada.
Enfiar o pé na areia e me sentir coqueiro.
Ceder o peito para meu amor usar de travesseiro.

 

Leminski para crianças



 

A lista de Howling (2ª parte)

Muitos desses livros me remetem à minha infância e pré adolescência.
A Fantástica Fábrica de Chocolate e Robinson Crusoé, ganhei de uma leva só num dos habituais passeios com meu pai pela livraria Van Damme, ali na Rua Gajajaras. Será que ainda existe? Numa rápida busca pela web, descubro sorridente que a
Van Damme ainda existe e agora com CDs também.
O vitoriano
Charles Dickens sempre me encantou com seus personagens avarentos e crianças amadurecidas precocemente.
Quando o Colégio Loyola indicou
A Revolta dos Bichos como leitura obrigatória, fiz pouco caso. Afinal já tinha lido "1984" (do mesmo autor) e "Admirável Mundo Novo" (de Huxley). Eu, com a prepotência só cabível à um adolescente, me considerava um passo a frente para a leitura de um livro com título e enredo tão infantis. Ledo engano! O livro é ótimo! Tão bom que, inspirado pela lista de Howling, comprei para minha filha. Espero que ela goste, se interesse pelo escritor e pelo Big Brother (que não é o da TV).
Um dia minha mãe cometeu a besteira de ler para mim um trecho de "O Sol é para Todos ". Isso bastou para que se tornasse uma tarefa obrigatória para ela. Todos os dias ela era obrigada a ler um trecho para mim e quando acabou o livro, pedi que começasse de novo. Adorava aquele livro e tenho até uma foto que comprova esse relato. Eu, menino de uns 07 anos, cabelo de príncipe valente e sorriso banguela, empunhando o livro orgulhosamente. Me alegrei muito ao ver o lvro transposto para o cinema no
filme com Gregory Peck (sendo considerado um dos filmes mais importantes da década de 60).
Os títulos e textos de Salinger sempre me intrigaram. Achava estranha a forma que ele escrevia. O porquê de "O Apanhador no Campo de Centeio" só fui entender quando vi o título em inglês e comecei a Ter uma vaga noção dos termos do baseball. Lembro também que adorava quando meu pai falava pra meninada: "- Pra cima com a viga, moçada!" Nunca tinha entendido o porque daquela frase até descobrir que era uma menção à outro livro do mesmo escritor. Além disso, foi Salinger quem abriu para mim as portas para os beatnicks como
Kerouac e Bukowski.
Lembro vagamente de "Ardil 22". Não do livro, mas do filme assistido na TV de madrugada junto com meu pai. Tive esse privilégio... ficava até altas horas vendo westerns, filmes de guerra e fazendo devorando o mexidão que meu pai fazia. Coisa que nenhum amigo da minha idade podia.
Com isso, só me resta dizer:
_ Pra cima com a viga, moçada!

 

10 livros que todos os alunos deveriam ler, segundo J.K. Rowling

A escritora de Harry Potter, J.K. Rowling publicou uma lista básica dos 10 livros que todos os alunos deveriam ler. São eles:

Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë
A Fantástica Fábrica de Chocolate - Roald Dahl
Robinson Crusoe - Daniel Defoe
David Copperfield - Charles Dickens
Ardill 22 - Joseph Heller
O Sol É Para Todos - Harper Lee
Revolução dos Bichos - George Orwell
O Conto dos Dois Ratos Maus - Beatrix Potter
O Apanhador no Campo de Centeio - JD Salinger
Hamlet - William Shakespeare

Alguns destes livros merecem capítulos especiais na minha infância e juventude, e um dia, se não me faltar ânimo e competência, discorrerei neste blog. Não sobre os livros, mas sobre situações e circunstâncias da minha vida atreladas a eles.

 

Meu amigo Márcio e Mark Twain

Existem amigos que, aos olhos de terceiros, nunca poderiam ser amigos. Personalidades tão incompatíveis que nunca se entrosariam, aos olhos dos outros. Acho que a maioria de meus amigos é assim, mas um deles se destaca... O Márcio. Um sujeito de personalidade e casos tão marcantes que dispensa sobrenome e apelidos. É só assim como é conhecido: Márcio (com ênfase no acento agudo).
Um sujeito autoritário, extremista, agitado e politicamente incorreto. Mas esses adjetivos, no caso dele, devem ser lidos superficialmente. Por trás desta casca grossa flui uma sabedoria tácita que só tem quem vive a vida sem fantasiar pudores.
Um dia, percebendo minha angústia por certas circunstâncias, ele me disse:
“- Nós sofremos assim, porque somos bons.” Ou seja, temos consciência e caráter.
Essa frase, além de apaziguar minhas tormentas e acariciar meu ego, me fez perceber porque somos amigos. Apesar dos métodos divergentes, buscamos o mesmo objetivo: “sermos bons”.
Lembrei desta situação ao ler algumas frases do
Mark Twain e pensei: “- Essa frase poderia ter sido dita pelo Márcio.”

“A vida ideal consiste em ter bons amigos, bons livros e uma consciência sonolenta.”

Continuei lendo as frases e não encontrei mais nenhuma que soasse como uma fala do Márcio, pelo contrário, se pareciam com o meu discurso cotidiano.

“A Bíblia nos ensina a amar o próximo e também a amar nossos inimigos provavelmente porque eles em geral são as mesmas pessoas."

"Passei por coisas terríveis em minha vida, e algumas delas de fato ocorreram."

"A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau."

"O homem é o único animal que se ruboriza. Ou que tem razões para isso".

"Procure viver de tal maneira que, ao morrer, até o agente funerário fique triste."


Acho que se numa situação hipotética, eu, Márcio e Twain, nos encontrássemos como desconhecidos numa mesa de bar, eu logo me cansaria do papo do Twain e selaria uma grande amizade com o Márcio.Por isso somos amigos.

 

Saudade do meu pai

Putz qui pariuz! Que saudade do meu pai! Bateu de repente, sem aviso e sem porquê.

Talvez exista um porquê.

Talvez porque tenha falado com ele hoje no telefone. Rapidinho. Ele, como eu, não sabe falar ao telefone.

Talvez porque ao escrever um e-mail para o Sérgio Rodrigues, citei-o como grande amante da etimologia e me lembrei de nossos papos na mesa do Verde Gaio quase deserto. Os garçons todos ao redor, não por serventia, mas torcendo para os últimos clientes irem embora.

Talvez porque lendo Rubem Alves me lembrei o quanto ele gosta de "causos" e me lembrei de nossos encontros casuais com o
Olavo Romano durante os passeios na Rua da Bahia nos sábados.

Eu, como o "
Tiãozinho" do Olavo Romano, gostava de escutar "conversa de homem na farmácia do João Reis".

Meu pai mora perto. Não é a Antônio Carlos ou a Catalão que nos separam. Nem algum muro ou rusga psicológica. Acho que simplesmente a falta de hábito. Hábito de visitar, de pedir a benção, de dizer bom dia, de pedir conselho... de conversas amenas, que não combinam com a praticidade cotidiana.

 

Sopa de Coentro do Rubem Alves

Faça a sopa e leia "Baixou o espirito do Drummond".

Sensação de ambiguidade
sopa quente
amor X liberdade
isso arrebenta o peito da gente


"Minha Receita de Sopa de Coentro"
"Onde já se viu, sopa de coentro? Pois existe e é deliciosa. É sopa inventada pelos portugueses pobres. Sopa de pobreza é sempre mais gostosa. Um amigo que andou por lá me contou como ela é e eu a fiz do meu jeito e deu certo. É assim. Faça um caldo normal de sopa, com cebola, alho, caldo de carne, tomate. Depois que o caldo estiver fervendo, ponha dentro um maço de coentro. Deixe ferver por uns 10 minutos. Retire o maço de coentro (pode jogar fora) e bata o caldo no liquidificador. Para servir: cada pessoa forra o seu prato com torradas (os portugueses pobres usavam pão velho). Em cima das torradas, queijo parmezão. Sobre o queijo, azeite. Aí você derrama o caldo fervente sobre o pão. É uma delícia. Mais fácil de fazer não existe. Até quem não gosta de coentro fica gostando..."
Rubem Alves

 

Imperdível

Mais uma vez, agradeço a amiga Alexandra pela dica imperdível:

A Casa de Rubem Alves


Realmente imperdível. Leitura fácil, mineiridade explícita, humor cáustico.
Se prepare, você não conseguirá sair da frente do computador por aproximadamente 10 horas.

Veja um exemplo:

"Seria tão bom, como já foi...", diz a Adélia. A alma mineira vive de saudade. Tenho saudade do que já foi, as velhas cozinhas de Minas, com seus fogões de lenha, cascas de laranja secas, penduradas, para acender o fogo, bule de café sobre a chapa, lenha crepitando no fogo, o cheiro bom da fumaça, rostos vermelhos. Minha alma tem saudades dessas cozinhas antigas...

 

Ciúme

"Quando se sabe pouco se imagina muito."
Rubem Alves

 

Sentença do Assassino do Fervil 08/02/2006

O Juiz da Vara Criminal, encarregado de julgar o processo do caso do Fervil ,deu a sentença final condenando o Réu, a 25 (vinte e cinco) anos de prisão em regime fechado."Bem aventurados os que têm fome e sede de Justiça porque serão saciados"- (Mateus-5,7.A JUSTIÇA DOS HOMENS foi feita, devemos gritar sempre NÃO À IMPUNIDADE.

 

Ferrugem na boca

Quando eu era criança, esperava que a ceia de natal fosse servida com ansiedade. Não pelos pratos festivos recorrentes nessa festividade, nunca gostei de perú, lombo, pernil assados (sempre considerei-os como comida de engasgar lobo). Esprava ansioso a única oportunidade anual de beber vinho.

(Hoje em dia, e principalmente fora das regiões vinículas, politicamente incorreto. Graças à Deus, minha família nunca se preocupou com o discurso demagogo, mas primava pela ética nas ações.) Nota do redator:Desculpem o hiperlink mental.

Tudo bem que era um vinho Surpresa, que não primava pela qualidade, mas sim pela doçura. Eu não ligava para a qualidade, nem pela doçura.Eu gostava da cerimônia e, principalmente, da sensação de ter algo repuxando na boca e na garganta logo após o primeiro gole.
Esta sensação, estranha para não iniciados, é causada pelo tanino da uva. Talvez o responsável por afugentar iniciantes pouco persistentes (a boca acostuma com o tanino).
Depois de alguns anos bebendo vinho, percebemos que este tanino causa 'ferrugem' nos dentes.

Foi o quê percebeu um empregado da Vinícula A. A. Ferreira, produtora do vinho Ferreirinha. A indústria passava por momentos financeiros difíceis, e havia tempo não pagava salários aos seus empregados.
Em um dia de inspiração escatológica, um de seus funcionários escreveu na porta do banheiro masculino:
"Ferreirinha, Ferreirinha,
tão gostoso és tú.
Das ferrugem na boca
e teia de aranha no cú."

Salve a inspiração repentina de uma cagada!

 

Ameixas bichadas para nossos filhos.

Comentário publicado sobre o texto "Casa da Vovó" da Alexandra no seu Blog.

Também adoro ameixinha amarela, mas tem muito tempo que não como uma tão saborosa quanto as de antigamente. As compradas em supermercado hoje em dia, são lindas, de um amarelo vivo e não têm bicho. Não têm bicho, mas também não têm gosto.
Eliminamos o inconveniente dos bichos, mas perdemos o sabor.
Esse também é o caso do tomate, do melão, da cenoura e da beterraba (só para citar alguns). Onde está o sabor??? Escondido na nossa memória.
Depois que nós nos formos, quem saberá o gosto de um tomate amadurecido no pé e sem alterações genéticas (os tomates do meu avô na era pré catchup - vee entrada de 01/02/2006 - Por falar em cinema...)?

"Sirigüela, sirigüela...
tão gostosa és tú.
Dá sica na boca
e diarréia no cú."
Adaptação da poesia encontrada na porta do banheiro da vinícula Ferreirinha. Outra história que contarei brevemente neste blog.

Já vi gente confundir Sirigüela com Cagaitera, mas não é. Sirigüela é Sirigüela. Fruta de infância antiga, dos tempos do trema que enfeita seu nome. Infância antiga, seja ela em Pimenta, Araçuaí ou Mariana. Não infância asfáltica belorizontina.

E o Jambo? Tem alguma coisa mais suave e cheirosa que jambo?
Eu tinha um pé de jambo secreto. Um dia percebi que não sobravam mais frutos, alguém devia estar roubando Meus jambos! Fiquei de tocaia e descobri os furtivos assaltantes... um bando de miquinhos enjoados de banana. Sacanas, nem pra dividir comigo!
Espero que pelo menos estes símeos sobrevivam pra contar aos nossos filhos como era o sabor de jambo, sirigüela e ameixinha bichada.

 

Para quem gosta de Progressivo

Sugestão para quem gosta de Rock Progressivo: escute enquanto lê o Blog.
http://app.uol.com.br/radiouol/linklista.php?playlist=69

A lista das músicas que você ouvirá:

Can / You Doo Right

Pra começar, uma calminha do Can.

Frank Zappa / Peaches En Regalia

Pra delirar com o Papa Zappa, antológica.


Tangerine Dream / Fly and Collision of Comas Sola


Não perca tempo com Tangerine Dream (new age só na Yoga)


Yes / Roundabout


Pra não deixar um dos clássicos do progressivo de fora. É manjada, mas com ouvidos atentos, descobrimos novas nuances.


Pulp / The Trees


Echo and the Bunnymen / The Game

Bonitinhas mas ordinárias. Não perca tempo com Pulp e Echo and The Bunnymen (ainda bem que dá pra avançar as faixas).

Talking Heads / Once In a Life time


Talking Heads não é progressivo mas dá para escutar, afinal tem tanto tempo que não ouvimos. Enjoou, passa pra frente.

Soft Machine / That's How Much I Need You Now


Tranquilinha, boa para iniciar inexperientes.


Laurie Anderson / Dark Angel


Que que essa música tá fazendo aqui! Não espere nem começar...pule!


Einstürzende Neubauten / Womb


Se você não conhece o som de um didgeridoo, essa é uma boa oportunidade de conhecer. Se sentira na beira de uma fogueira no outback.


10CC / Ships Don't Disappear In the Night, Do They?


Mais pra Glitter Rock que pra Progressivo, mas dá pra escutar. Tem uma pequena (muito pequena) com Rush.


Herbaliser / Sensual Woman


Isso é Acid Jazz. Agora toda música que tem flauta transversal é progressivo. Deve ser por isso que o guitarrista do Jethro Tull mudou de sexo!


Cornu / Youpi (Space Spaghetti Mix)


Não conhecia. Algo a ver com Macy Gray, mas nad com progressivo. Começo a pensar porque indiquei essa lista para apreciadores de progressivo.


Mas a música é boa, vale a pena escutar.


Verve / A New Decade


Apenas distorções. Pule mas não desista, ainda tem coisa boa pela frente.


Guru Guru / Globetrotter


Acid Jazz com aspirações a progressivo. Muito chato!


Gentle Giant / Why Not?


SURPRESA!!! Uma das melhores bandas do mundo!!! Devia ser a apoteose da lista! Quem fez a lista, guardou essa delícia para o final, como criança que deixa o catupiry da coxinha pra comer por último.


Sea and Cake / All The Photos


 

Banco Imobiliário nos tempos de net!

Quando eu jogava Banco Imobiliário, sempre imaginava que aquilo um dia ia ser importante para meu desenvolvimento intelectual. Lógico que não me valeu de nada, ou quase nada (sou Administrador de Empresas talvez influenciado remotamente pelo jogo).
Acho que muitos dos jogadores de video game, esses, muito mais aficionados que eu no Banco Imobiliário, também se perdoam pelas horas perdidas frente a tela com alguma desculpa esfarrapada com fundamendos sólidos na pedagogia e andragogia.
"-Talvez minhas habilidades no The Simms me ajudaram nos meus relacionamentos sociais."
"-Meus reflexos e coordenação motora serão desenvolvidos pelas horas de treinamento no Fifa Soccer."
Ou ainda, fugindo um pouco dos jogos:
"Meu network está crescendo muito devido ao Orkut."
Este tipo de justificativa são quiméras reconfortantes para muitos, mas para alguns privilegiados isto pode ser real e render bons frutos.

Você já ouviu falar de
Edson Brandi? Então conheça esse representante da Geração Y brasileira, no texto de Pedro Doria para a revista eletrônica NoMínimo.

"Espero que algum dia esse blog me renda algum dim dim, mesmo que seja virtual para que eu possa trocar por verdinhas norte americanas."

 

Compreender é uma tarefa árdua. Uma tarefa para poucos.

“...É belo dar quando
solicitado; mas é mais
belo, porém, dar sem ser
solicitado, por haver
apenas compreendido...”

Gibran Khalil Gibran


Desprender-se, não aguardando uma recompensa terrena ou Divina.
Isto é para poucos, afinal, aprendemos a chorar para recebermos o seio, afagamos esperando um carinho, beijamos esperando que os olhos do outro se cerrem.
Entender a pureza no ato de doar é impossível para quem não é o sujeito da ação.

Seria bom um agradecimento, uma recompensa, um retorno... mas isso não é uma condição determinante para o meu agir.

Deturpo o sentido do texto, utilizando-o para um novo contexto:
"... o beijo amigo é véspera do escarro."

 

Citações, citações, citações... a procura de inspiração!

"Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"
Vinicius de Moraes

Envolvido em brumas na calmaria, continuo no alto da gávea, em busca do farol da inspiração. Enquanto isso, citação.

 

Ótima frase! Chupada do blog da Luiza Voll

Que grata surpresa "descobrir" o blog Zoom! da Luiza Voll.
Delicioso! Difícil de parar de ler.

Lá, encontrei essa pérola:

"Para Adão, o paraíso era onde estava Eva." Mark Twain



Obrigado Luiza, pelas vastas emoções e pensamentos imperfeitos!

 

Ótima frase! Chupada da Cris Clarke

"...O maior erro do ser humano, é tentar tirar da cabeça aquilo que não sai do coração..."

Chupei esta frase do blog da
Cris Clarke, admiradora (como eu) do Fernandinho, Mineiro, Barrão, Fervil ou Fernando Villela (como era conhecido em seus diversos círculos).

Não sei se a frase é de autoria dele, mas poderia ser com toda certeza!


Causo do Fernandinho (era assim que eu o conhecia):

Sempre que ele "aparecia" as pessoas falavam:
"_ Tá sumido, cara!"
E, numa destas, ele respondeu:
"_ Pô, todo mundo me fala isso! Por onde é que eu ando, então?".

(Texto também chupado do blog
http://www.fervilvive.org/ de Cris Clarke)
Obrigado Cris, por perpetuar a memória digital do nosso amigo Barrão.
Keep on fighting for our rights!

 

Shakespeare

De repente, me dei conta que nunca havia prestado atenção em Shakespeare! Talvez por ter antipatia do Kenneth Branagh. Um absurdo! É claro que é impossível conhecer Shakespeare através do cinema.

"O tempo é muito lento para os que esperam,
muito rápido para os que têm medo,
muito longo para os que lamentam,
muito curto para os que festejam.
Mas, para os que amam, o tempo é eternidade... "

(William Shakespeare)


Não vou mais esperar.

Novo objetivo para 2006: ler mais Shakespeare!

 

Santidade

"Sem dúvida, bebidas alcoólicas, tabaco, etc. são coisas que um santo deve evitar, mas santidade também é algo que os seres humanos devem evitar." George Orwell

 

Comer um polvo cipueiro na Barraca de Jajá


Ilalamiê ohoh
Ilalamiê caiô

Na Bahia aiá
Alegria tem um jeito de viver
Na Bahia aiá
O destino faz sorrir seu bem querer
Na Bahia aiá
A Ilha de Maré
Na Bahia aiá
Farol da Barra
Itaparica
Morro de São Paulo, Salvador, Itacaré

É sempre bom lembrar
Oxum, Yemanjá
Comer um polvo cipueiro na Barraca de Jajá
Stella tem o segredo da lagoa e do meu bem

Na Bahia aiá, uououou
Na Bahia aiá, uououou
Encontrei o meu amor


 

Um bilhetinho azul

Hoje eu acordei com sono
Sem vontade de acordar
O meu amor foi embora
E só deixou pra mim
Um bilhetinho todo azul
Com seus garranchos
Que dizia assim:
"Xuxu, vou me mandar
É, eu vou pra Bahia
Talvez volte qualquer dia
O certo é que eu tô vivendo
Tô tentando
Nosso amor foi um engano"

Hoje acordei com sono
Sem vontade de acordar
Como pode alguém ser tão demente
Porra-louca, inconseqüente
E ainda amar?
Ver o amor
Como um abraço curto pra não sufocar?
Ver o amor
Feito um abraço curto pra não sufocar?

Barão Vermelho

 

Elizabeth Bishop

Um pensamento machista...
"Uma mulher que ama outra mulher, só pode ser uma mulher sábia."
Elizabeth Bishop não me deixa mentir:
Uma arte

Elizabeth Bishop
Tradução de Horácio Costa

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada
embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.

- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - escreva tudo! - lembre desastre.

Elizabeth Bishop era sábia mas bebia,

Angela Rô Rô bebia e não sei se é sábia.


 

Por falar em cinema...

Gostei muito do "Tempero da Vida". Um ótimo filme para quem gosta de cozinhar, mas melhor ainda para quem sabe que cozinha, poesia e vida se misturam saborosamente num banquete altruísta. Quem cozinha e faz poesia, o faz porque ama: os outros e a vida. Isto é coisa de quem ainda acredita que servir é amar. Coisa para poucos abençoados.
Gostaria de ter visto junto com o Rafa. Acho que ele gostaria. Apesar da pouca idade, já é poeta do cotidiano e está aprendendo a apreciar os temperos da vida. Tenho certeza de que ele gostaria do filme. Ainda lembro quanta surpresa me causou, ele ter me contado com tantos detalhes a trama de “
Simplesmente Marta”. Imagine, um menino de 06 anos... só pode ser poeta.
Acho que se ele assistisse ao filme, passaria a entender melhor as mulheres (principalmente as bonitas) e passaria a usar mais canela em suas receitas do dia-a-dia.

O filme me remeteu ao meu avô, Seu Zeba. Homem charmoso e bonitão (o mais admirado goleiro do Guarani de Mariana). Uma das minhas primeiras receitas, lá pelos 05 anos de idade, era coisa dele.
Ele cultivava tomates no quintal, como na época não se usava (ou não existia) catchup, ele deixava o tomate no pé até murchar, amassava com sal, açúcar, vinagre, mostarda e azeite. Depois comia com pão. Coisa pra gente de estômago forte e beijo doce.
Era um homem sorridente, vigoroso e com uma notória habilidade para encantar as mulheres.
Comprovei essa habilidade no dia em que, já bastante debilitado pela idade, levei-o para fazer exames clínicos. Enquanto ele contava seus casos para mim, com sua costumeira fala mansa, uma legião de enfermeiras foi se agrupando ao seu redor. Quando percebi, eu já não fazia parte do papo. Ele tinha mobilizado todas as enfermeiras do laboratórios em pleno expediente, sem fazer força ou ser assedioso.
Era um homem que sabia que o doce de leite da roça era bom, mas o de lata tinha o seu lugar.
Ele sabia que “a vida, como a comida, precisa de sal, também”.

 

Interrupção para um bom filme

Fui ver "Vinícius", o filme de Migulel Faria Jr.. Muito bom, recomendo à todos. Lembrei muito do meu pai, um pouco pelas aventuras etílicas e muito pela poesia.Minha mãe também se fez presente na tela de minhas memórias durante a audiência. Quando ainda era muito novo para entender sobre essas coisas, ela me avisava: - "Um dia você ainda irá gostar do Vinícius!" ou ainda: - "Quando você conhecer Vinícius, passará a entender melhor a vida!"Dona Clô sempre me ligava avisando que estava tocando "As cores de abril" no rádio, insistia para eu ouvir, e eu, com o desprezo tedioso característico de filho, respondia: - "Tá mãe, já tô ouvindo." Mas mãe tem sexto sentido e ela sabia que não era verdade. Cansou de me ligar sempre e me deu um CD de presente, ouvi e compreendi o que as tardes de abril representavam para ela após o dia 07 de abril de 1973.Para ela deixo uma do Vinícius, e espero que ela me aconchegue com os versos de cores de abril.

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora. Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fonte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.

Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão. que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe.

 

O MIMEÓGRAFO PISCA-PISCA – (O dia em que faremos contato)

Lá estava ele, logo ao lado do computador. O computador! Porque o deixei ligado? Lembro-me de tê-lo desligado antes de deitar. Deve ser vírus. Que visão perturbadora! Duas máquinas incompatíveis temporalmente, lado a lado como o tubarão e a rêmona, numa simbiose comensalista. Mas no Comensalismo, uma das “espécies” deve se aproveitar dos restos desprezados pela outra. Quem era quem nessa cena?
Nos tempos de Internet à cabo, finalmente liberta dos impulsos telefônicos, e da tecnologia “wireless”, meu computador provavelmente não seria dependente de uma máquina arcaica como um mimeógrafo. Então, o mimeógrafo devia estar se alimentando de restos desprezados por meu computador.
Que restos seriam estes? Textos, salvos não sei porquê, escritos supostamente por notórios e enviados por amigos desconhecidos? Sistemas criados com paixão para a
Samitri? Intermináveis trabalhos de faculdade? Utopias de aperfeiçoamento de qualidade para o Banco do Brasil? Planilhas complexas que tentavam mensurar em números o valor de cada ser humano do Sebrae? Músicas que foram trilha sonora da minha vida? Fotos de pessoas queridas e momentos que ficaram no passado?
Não! Isto tudo não são restos! Isto tudo é bagagem, é vida, sou eu. Bagagem constitucional, sem valor monetário nem afetivo. Bagagem que não pesa. Não pude descartar esta carga como o fez Capitão Mendonza em “
A Missão”, pois ela não me pertence. Não sou o que tenho, sou o que sei. Que valor isso teria para uma máquina inanimada do tempo do Kafunga?
Inanimada? Como um mimeógrafo poderia estar funcionando sozinho, sem operador? Estamos em tempos de Inteligência Artificial, mas são modernidades que esta máquina não presenciou. Seria mágica? Não acredito em mágica, no máximo, truques. Pode ser coisa do inconsciente coletivo. Sempre ouvi céticos explicarem as coisas de Deus com este jargão
junguiano que nunca entendi. Mas como já disse Renato Russo: “Estou cansado de ouvir você falar em Freud, Jung, Engels e Marx”.
Ao me aproximar da máquina reparo em outro fato inusitado. O mimeógrafo está funcionando com seu característico cheiro de álcool, mas as esperadas páginas com textos arroxeados não existem. Onde está o resultado de todo aquele trabalho ruidoso? Aproximo-me mais e percebo que o computador está conectado na web, redigindo espontaneamente um blog. Duas máquinas funcionando sozinhas, devo ter perdido a razão. Talvez tenha sido tarde para optar pela abstinência etílica. Ou é um sonho. Só pode ser. Para um ser tão apegado à lógica como eu, não é fácil aceitar que a vida talvez seja mais próxima do Realismo Fantástico de
Garcia Márquez que da fantástica realidade de Stephen Hawking.
Que texto estranho era este sendo publicado no blog? As palavras, nunca pensadas por mim e nunca ditas por outros, me levam a crer que isto não é um sonho. Esfrego os olhos para tentar acreditar no título do blog. Agora sim, as peças começam a se encaixar. Num hiato da ditadura da razão, compreendo tudo, o inimaginável se descortina à minha frente com uma clareza incômoda. A simples leitura do título em letras maiúsculas, elucida o mistério.

O MIMEÓGRAFO PISCA-PISCA

 

O MIMEÓGRAFO PISCA-PISCA - (O início)

O MIMEÓGRAFO PISCA-PISCA - (O início)
Para a Bruna.Para que você conheça um pouco deste 'amigo desconhecido', agora em edição melhorada por sua existência.

Eis que surge repentinamente e sem explicação, em meio a um odor de álcool indecifrável e ruídos de tear sino-industrial, um Mimeógrafo espectral. Funcionando sozinho mas sem imprimir páginas, inexplicavelmente gerando textos neste blog. Um trombolho arcaico auto-executável 'on demand'.
Noite alta, deitado, querendo dormir, mas com o rotineiro raciocínio-circular já na trigésima volta, (corrijo: rotineiro para todos os seres que não atingiram o nirvana ou ainda não abriram as portas de Blake). Sinto cheiro de álcool, odor estranho considerando meus atuais dias de abstinência etílica. Enquanto farejo como perdigueiro, autômato devido aos tempos de pré-abstêmio, um barulho compassado rompe o silêncio da noite e meu turbilhão de devaneios. Que ruído é este? Lembra-me a guilhotina funcionando à toda no porão do Cesec do Banco do Brasil na Rua Guarani. Não, é mais compassado. Talvez um tear industrial, dos antigos, anterior à invasão chinesa, daqueles que já funcionaram um dia em Caetanópolis ou Biribiri. Também não, é um ruído mais romântico que o produzido por operários desesperançados. Isto! Barulho resultante de esperança! Quem trabalha com esperança? Os pais? Na educação dos filhos? Não, isso não é trabalho, nem pode gerar um barulho tão constante. Educação, esperança e trabalho. Somente o professor. Mas nenhum professor trabalha com guilhotinas ou teares. Sei disso pois, a mãe do meu pai era professora, a mãe da minha mãe era professora, meu pai era professor, minha mãe era professora, a mãe da mãe da minha filha era professora, e a mãe da minha filha era professora. Com uma genealogia dessas, era de se esperar que eu reconheça que todo professor é um operário da esperança, mas sem utilizar prensas ou teares. E o cheiro de álcool? Continua. Qual a relação entre o odor de álcool e professores? Excluindo-se o sábio Professor Petrônio da FUMEC, não percebo relação. Os sentidos me indicam que a lembrança é mais antiga, não é reminiscência dos tempos de faculdade. Talvez seja uma sensação da época de científico (nem sei se ainda se diz assim) no Promove da Serra. Não, cheiro de álcool no promove, só dos colegas que tomavam 'porradinha' nos botequins da Rua Palmira. Pode ser do tempo do Primeiro Grau no Loyola. Não, álcool lá só no Doce Vida e nas famosas festas juninas. Certo que o barulho e o cheiro se fundem numa toada de uníssona de trabalho, educação e esperança, só me resta vasculhar as reminiscências do primário. Mas álcool no primário? Aí não, já é demais. Até o vinho da comunhão, era suco de uva. Lembro-me do suquinho sabores laranja ou uva do baleiro. Não é possível. Se fosse isso os padres já tinham mandado o Geléia, nosso guarda protetor, prender o corruptor. Mas agora tenho certeza que a lembrança é desta época. Livre dos pensamentos circulares, consigo vasculhar os labirintos da memória. Não sei se estou livre do raciocínio vicioso ou se ele apenas mimetizou-se em saudosismo repentino. Mimetismo. Isto se aprendia nas aulas de Ciências. Lembro-me muito bem da cobra-coral, da borboleta vice-rei e do camaleão. Mimetismo vem do grego 'mimetós', que significa imitado ou copiado. No gerúndio seria 'mimeo', ou seja, imitar, copiar. Álcool, escola e copiar fazendo barulho... 'mimeo'. É claro! Um MIMEÓGRAFO! Graças à meu pai, que era professor e me fez amar a etimologia, consegui decifrar esta charada insólita. Não sei quanto tempo se passou ou porque não me levantei logo para averiguar o que gerava o barulho, mas no momento exato em que identifiquei o que era, fui impulsionado, de um salto só, a inspecionar minha casa. Lá estava ele, funcionando a toda, sem dar explicação, sem operador, sem me respeitar e sem imprimir as esperadas cópias em tinta arroxeada. De onde surgiu ou o que significava aquilo, eram perguntas que a magia do momento não me permitiam fazer.

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