segunda-feira, 29 de outubro de 2007

 

Niemeyer é 9º em lista que reúne 100 "gênios vivos"


Deu no Uai.
"O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer ficou em nono lugar numa lista que reúne os “100 maiores gênios vivos”, compilada pela empresa de consultoria global Synectics. A lista considerou fatores como aclamação popular, poder intelectual, realizações e importância cultural para eleger os vencedores..."

É bom perceber que minha opinião não é a única.


quarta-feira, 24 de outubro de 2007

 

Vencendo o espaço

Um pouco motivado pelas recentes exposições em BH sobre a obra de Niemeyer e quase que impelido pela vivencia junto aos delírios arquitetônicos em tempos de construção de minha casa, assisti o documentário “A vida é um sopro” de Fabiano Maciel. Um espetáculo para quem já é fã (como eu) e para quem não é. Um espetáculo para arquitetos, para poetas, para humanistas e concretistas. Para a esquerda, para a direita, para ricos e fodidos. Só não vale para os quadrados com seus ângulos retos, arestas que ofendem o espaço.

Durante o filme, várias reminiscências de memória vieram à tona... (talvez já as tenha citado aqui, mas como o Mimeógrafo apaga suas palavras banhando-as em álcool, eu também faço o mesmo com as minhas)...
Na fala do historiador Eric Hobsbawn, lembrei-me da primeira vez que vi Oscar Niemeyer, numa mesa de restaurante no Rio, ladeado pelas “maiores cabeças do país” (como falou-me meu pai intimidado, apesar de sua grandeza e soberba inata). Oscar, Tom, Vinícius, Lúcio e, talvez (não sei ao certo – álcool demais), Drummond. Uma parada dura, até mesmo para o Prof. Torres.

Nas curvas da marquise da Casa do Baile, lembrei-me da Tereza, papo recorrente nas mesas de boteco com meu primo Vici (ela, com certeza, já citada aqui e também nos agradecimentos finais do documentário (com o sobrenome injustamente grafado errado). [Abre hiperlink da consciência] É válido explicar que, apesar de ser um apaixonado pelas mulheres como o Oscar, não me lembrei da Tereza devido à comparação óbvia com as curvas da Casa do Baile, mas por ela ter cuidado tão bem deste patrimônio (mais uma vez ressalto... quando me refiro à patrimônio, me refiro ao patrimônio público, algo que pertence à sociedade... a Tereza é só dela e de quem ela quiser que seja). [Fecha hiperlink da consciência]

Quando vi Sartre defendendo o rumo que a Revolução Cubana havia tomado, lembrei-me de outro documentário que anseio ver... “CUBA”, realizado por uma certa jornalista/documentarista/comunicóloga/professora/diva_esportiva/musa_de_sorriso_farto, cabeça dura, olhos inquietos, voz rouca e beijo doce.

O depoimento de Mário Soares (ex-presidente de Portugal), encantado, da mesma forma que me encantei, com os desenhos livres de Niemeyer desafiando o espaço branco da toalha de papel de uma churrascaria em Niterói, imediatamente lembrou-me do Zé Aparecido (que, coincidentemente, neste fim de semana foi fazer outros amigos num planalto melhor) . Mais do que um Embaixador, um amigo através de quem fui apresentado a muitas das cabeças pensantes elencadas por meu pai e Hobsbawn.

Durante todo o documentário lembrei-me da Bruna e do trabalho escolar sobre o arquiteto no qual tentei ajudar (pelo menos tentei)... relendo as premissas básicas do tal trabalho, percebi que se comparam às do roteiro do Fabiano Maciel, o que me orgulha muito.

“É sabido que Oscar Niemeyer odeia o capitalismo e odeia o ângulo reto. Contra o ângulo reto, que ofende o espaço ele tem feito uma arquitetura leve como as nuvens, livre, sensual, que é muito parecida com a paisagem das montanhas do Rio de Janeiro. São montanhas que parecem corpos de mulheres deitadas desenhadas por Deus, no dia em que Deus achou que era Niemeyer.”
Eduardo Galeano – Escritor

“A Casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados do Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de um belo dia iríamos morar na Casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a Casa do Oscar.
Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguazes, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco. Decidi-me a ser Oscar eu mesmo.
Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é Casa do Oscar.”

Chico Buarque

“Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. Acurva que encontro no curso sinuoso dos nossos rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein.”

Oscar Niemeyer

“Todos nós temos dentro de nós um ser oculto que nos leva para um lado ou para o outro. Eu digo sempre que o meu é esse: ele gosta das coisas, gosta de mulher, gosta de se divertir, gosta de chorar, se preocupa com a vida. É um sujeito complicado, não é?”
Oscar Niemeyer

“Nós não somos responsáveis em parte pelas nossas qualidades e defeitos. Então o sujeito nasce branco, preto, amarelo, azul, rico, pobre, inteligente. Então a gente tem que aceitar as pessoas como elas são. De modo que, quando eu vejo uma pessoa feita, eu sempre digo: É feito uma casa, uma casa que a gente pode pintar, consertar o telhado, as paredes, mas, se o projeto for ruim fica sempre a deficiência.”
Oscar Niemeyer

“A mediocridade ativa é uma merda!”
Oscar Niemeyer

Esse texto só pode ser externado devido à contribuição de:
Seu Zé Torres – um professor mimeógraficamente intermitente, amigo despojado (como todo amigo deve ser), e um poeta espadachim, que me instigou a pensar além do convencional.
Bruna – intransigentemente anti-mimeografiquiana.
José Aparecido de Oliveira – quem me possibilitou acesso à geração de 30, proprietário da Capela de Santa Cecília (projeto de Niemeyer) em Miguel Pereira/RJ – A sabedoria não precisa estar escrita. Pode ser transmitida, vulgarmente na mesa da bar, na sala de estar, no despachar, na filha que auxilia, no filho que perpetua, na mulher que vivencia, no neto que admira.
Ana Paula – pela motivação implícita, alegria motriz, amor à comunicação e ao cinema documental, além da co-participação nos projetos arquitetônicos e de vida.

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