segunda-feira, 20 de março de 2006

 

O MIMEÓGRAFO PISCA-PISCA - (O início)

O MIMEÓGRAFO PISCA-PISCA - (O início)
Para a Bruna.Para que você conheça um pouco deste 'amigo desconhecido', agora em edição melhorada por sua existência.

Eis que surge repentinamente e sem explicação, em meio a um odor de álcool indecifrável e ruídos de tear sino-industrial, um Mimeógrafo espectral. Funcionando sozinho mas sem imprimir páginas, inexplicavelmente gerando textos neste blog. Um trombolho arcaico auto-executável 'on demand'.
Noite alta, deitado, querendo dormir, mas com o rotineiro raciocínio-circular já na trigésima volta, (corrijo: rotineiro para todos os seres que não atingiram o nirvana ou ainda não abriram as portas de Blake). Sinto cheiro de álcool, odor estranho considerando meus atuais dias de abstinência etílica. Enquanto farejo como perdigueiro, autômato devido aos tempos de pré-abstêmio, um barulho compassado rompe o silêncio da noite e meu turbilhão de devaneios. Que ruído é este? Lembra-me a guilhotina funcionando à toda no porão do Cesec do Banco do Brasil na Rua Guarani. Não, é mais compassado. Talvez um tear industrial, dos antigos, anterior à invasão chinesa, daqueles que já funcionaram um dia em Caetanópolis ou Biribiri. Também não, é um ruído mais romântico que o produzido por operários desesperançados. Isto! Barulho resultante de esperança! Quem trabalha com esperança? Os pais? Na educação dos filhos? Não, isso não é trabalho, nem pode gerar um barulho tão constante. Educação, esperança e trabalho. Somente o professor. Mas nenhum professor trabalha com guilhotinas ou teares. Sei disso pois, a mãe do meu pai era professora, a mãe da minha mãe era professora, meu pai era professor, minha mãe era professora, a mãe da mãe da minha filha era professora, e a mãe da minha filha era professora. Com uma genealogia dessas, era de se esperar que eu reconheça que todo professor é um operário da esperança, mas sem utilizar prensas ou teares. E o cheiro de álcool? Continua. Qual a relação entre o odor de álcool e professores? Excluindo-se o sábio Professor Petrônio da FUMEC, não percebo relação. Os sentidos me indicam que a lembrança é mais antiga, não é reminiscência dos tempos de faculdade. Talvez seja uma sensação da época de científico (nem sei se ainda se diz assim) no Promove da Serra. Não, cheiro de álcool no promove, só dos colegas que tomavam 'porradinha' nos botequins da Rua Palmira. Pode ser do tempo do Primeiro Grau no Loyola. Não, álcool lá só no Doce Vida e nas famosas festas juninas. Certo que o barulho e o cheiro se fundem numa toada de uníssona de trabalho, educação e esperança, só me resta vasculhar as reminiscências do primário. Mas álcool no primário? Aí não, já é demais. Até o vinho da comunhão, era suco de uva. Lembro-me do suquinho sabores laranja ou uva do baleiro. Não é possível. Se fosse isso os padres já tinham mandado o Geléia, nosso guarda protetor, prender o corruptor. Mas agora tenho certeza que a lembrança é desta época. Livre dos pensamentos circulares, consigo vasculhar os labirintos da memória. Não sei se estou livre do raciocínio vicioso ou se ele apenas mimetizou-se em saudosismo repentino. Mimetismo. Isto se aprendia nas aulas de Ciências. Lembro-me muito bem da cobra-coral, da borboleta vice-rei e do camaleão. Mimetismo vem do grego 'mimetós', que significa imitado ou copiado. No gerúndio seria 'mimeo', ou seja, imitar, copiar. Álcool, escola e copiar fazendo barulho... 'mimeo'. É claro! Um MIMEÓGRAFO! Graças à meu pai, que era professor e me fez amar a etimologia, consegui decifrar esta charada insólita. Não sei quanto tempo se passou ou porque não me levantei logo para averiguar o que gerava o barulho, mas no momento exato em que identifiquei o que era, fui impulsionado, de um salto só, a inspecionar minha casa. Lá estava ele, funcionando a toda, sem dar explicação, sem operador, sem me respeitar e sem imprimir as esperadas cópias em tinta arroxeada. De onde surgiu ou o que significava aquilo, eram perguntas que a magia do momento não me permitiam fazer.

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