segunda-feira, 20 de março de 2006

 

Interrupção para um bom filme

Fui ver "Vinícius", o filme de Migulel Faria Jr.. Muito bom, recomendo à todos. Lembrei muito do meu pai, um pouco pelas aventuras etílicas e muito pela poesia.Minha mãe também se fez presente na tela de minhas memórias durante a audiência. Quando ainda era muito novo para entender sobre essas coisas, ela me avisava: - "Um dia você ainda irá gostar do Vinícius!" ou ainda: - "Quando você conhecer Vinícius, passará a entender melhor a vida!"Dona Clô sempre me ligava avisando que estava tocando "As cores de abril" no rádio, insistia para eu ouvir, e eu, com o desprezo tedioso característico de filho, respondia: - "Tá mãe, já tô ouvindo." Mas mãe tem sexto sentido e ela sabia que não era verdade. Cansou de me ligar sempre e me deu um CD de presente, ouvi e compreendi o que as tardes de abril representavam para ela após o dia 07 de abril de 1973.Para ela deixo uma do Vinícius, e espero que ela me aconchegue com os versos de cores de abril.

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora. Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fonte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.

Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão. que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe.

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