segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

 

Livros pra serem furtados...

O agente do governo, desses encarregados de ir pelos campos visitando pequenos sitiantes para dizer-lhes das últimas maravilhas da ciência para assim melhorar suas colheitas e animais, estava desanimado.
Visitava sitiantes, conversava, bebia café aguado doce, contava sobre os porcos melhores que eles poderiam criar, ninguém discordava, mas ninguém fazia nada. Continuavam a cria os porquinhos caruncho, mirrados. Desanimado, ele contou sua tristeza para um velho sábio. E foi isso que ele lhe disse:

“O senhor está usando a pedagogia errada. O povo daqui sabe que ninguém faz nada de graça. São delicados. Não contestam. O senhor fala, eles prestam atenção, mas ficam pensando: ‘O que é que o doutor quer tirar da gente? O meu conselho é: pare de visitar e aconselhar. É inútil. Compre uma chacrinha. Cerque com arame farpado, seis fios. E escreva: ‘Entrada proibida’. Aí eles vão perguntar: ‘O que é que o doutor está escondendo da gente? O que é que a gente pode roubar dele?’Aí, de noite, eles vão assuntar. Vão ver seus porcos grandes e gordos...Agora são eles que vão visitar o senhor. Conversa vai, conversa vem, café com rosquinha, no final eles vão dizer: ‘Bonita a porcaiada sua. Sadia, grande, gorda...’Então, aos pouquinhos, como quem não quer nada, o senhor vai educando eles...’
Pensei que a filosofia do sábio matuto pode ser aplicada na educação.
O roubo é um estímulo poderoso. Santo agostinho roubava pêras do vizinho só pelo prazer de roubar. Eu mesmo roubei pitangas e, para realizar meu furto, inventei uma maquineta de roubar pitangas. Meu desejo de roubar me fez pensar.
Todo pai, mãe e professora fica atormentando as crianças e adolescentes para ler. Comportam-se como o agente do governo tentando ensinar os caipiras. Mas eles não querem ler. Ler é chato.
Livro que se deseja ler são os livros proibidos: precisam ser roubados. Era assim quando eu era pequeno. A gente roubava o livro proibido e ia atrás das passagens mais escabrosas.
Conselho para o pai: compre um livro engraçado e se ponha a ler na presença do filho, durante o “Jornal Nacional”. Quando chegar uma passagem engraçada ria, ria muito alto. O menino vai perguntar: “Pai, por que é que você está rindo?” “É esse livro aqui, meu filho”.
“O que é tão engraçado?” “Agora não posso explicar. Não posso interromper a leitura...” O menino fica intrigado. Seu pai está tendo um prazer que ele não tem. Aí o pai leva o livro para o quarto e o deixa sobre o criado mudo. O menino vai lá assuntar...
Se um livro não provocar o desejo de roubo não merece ser lido.


Fonte: Folha de São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 2007 - COTIDIANO
Rubem Alves


Isso me lembrou a história da BATATA...
No fim do século XVIII, Parmentier julgou ser a batata uma solução para a fome que grassava na França. O problema é que a população não reconhecia a importância nutritiva da planta. Então, com a cumplicidade do rei Luís XVI, organizou um almoço em homenagem ao soberano e divulgou-o amplamente. O rei apresentou-o com um buquê de flores de batata no alto do chapéu. Após a refeição, cedeu a Parmentier o actual Champ-de-Mars para cultivar experimentalmente a planta. A fim de provocar a curiosidade humana, colocou um exército em volta da lavoura. O povo achou que escondia alguma coisa preciosa. Durante o dia, ninguém podia aproximar-se. À noite, os militares fingiam estar distraído, e as pessoas entravam na propriedade para furtar mudas. Foi a principal estratégia de propaganda dum alimento que, finalmente, conquistou o paladar francês.

Parmentier espalhou o novo alimento e sugeriu maneiras de prepará-lo. O seu nome costuma ser associado a diversas receitas, de variados autores. São os ovos Parmentier, carré de cordeiro Parmentier, bacalhau Parmentier e hachis Parmentier, entre outros.

Com o abrandamento das superstições, a planta se difundiu pela Europa. Na Segunda Guerra Mundial, a batata consagrou-se como alimento imprescindível, salvando milhões de pessoas da inanição fatal.

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